Sobre as mulheres

Nos meus eternos questionamentos cheguei à seguinte conclusão:

Há três tipos de mulher: as santas, as putas e as que transitam entre a clareza da primeira e a obscuridade da segunda.

Não, mulher, não pare de ler achando que é pretensão minha tipificar você nesses três tipos. No final, me entenderá e talvez até me dê razão.

Pra exemplificar esses três tipos, eis que recorro a três célebres personagens femininas da Literatura: Madalena, Dona Flor e Capitu.

Madalena, de São Bernardo, é de uma raridade ímpar. Exemplo de mulher quase perfeita – até porque a perfeição é reservada, única e exclusivamente, para as nossas mães. A personagem de Graciliano é culta, altruísta, fiel, trabalhadora, enfim. Reúne uma gama de qualidades que, para nós homens, são infindáveis defeitos. Não somos merecedores do amor e nem capazes de amar essas mulheres. E isso faz com que elas suicidem o próprio sentimento.

Pro leitor desavisado, Dona Flor não tinha nada de puta. Usei-a como exemplo do segundo tipo para classificar a mulher que, se fosse possível, nos trairia até com os mortos. Somos meros joguetes dos seus devaneios. O pior de tudo isso é que gostamos. O saudoso poeta Mário Quintana escreveu que o mais triste de um passarinho engaiolado é que ele se sente bem. Somos engaiolados por elas e cruel e aparentemente nos sentimos bem. Falsa ilusão. Como disse o queridinho de vocês, Chico Buarque: Por trás de um homem triste há sempre uma mulher feliz. E atrás dessa mulher, mil homens sempre tão gentis.

Já o terceiro modo é o que me parece mais comum. Mesclam elementos do primeiro e do segundo tipo. Capitu talvez seja a que melhor retrate essa mistura entre Madalena e Dona Flor, até que se prove o contrário. Não se pode afirmar sobre o seu caráter ou sobre suas atitudes até que flagremos um trejeito de Madalena ou Dona Flor. No entanto, isso não quer dizer que sejam confiáveis.

Como você pode ver, mulher, somos reféns. Reféns de nós mesmos e de nossa eterna dúvida. Essa eterna dúvida que ainda não conseguimos responder.

E se me permitem ir mais além, talvez estivesse enganado. Essa Quimera tem muito mais do que três cabeças. Chamá-las de vilãs ou heroínas seria puro reducionismo romântico. Quem sabe se vocês, assim como nós, só façam agir de acordo com cada situação. Reféns daquilo que nós julgamos achar que conseguimos esconder… os próprios sentimentos.

9 comments so far

  1. Tauil on

    Cara, achei na medida certa! Muitíssimo bom texto!, parabéns!

  2. Nina Mello on

    Só tenho uma coisa a dizer: adorei! 🙂
    Parabéns pelo texto, ficou muito legal.

  3. Ellen on

    Adorei Dézinho…vc escreve muito bem!

    Agora vou ler sempre 😉

    Beijos

  4. on

    E se esse post fosse uma música:

  5. Alessandra on

    O “poetinha” escreveu: “A aurora é uma mulher que surge da noite, de qualquer noite – essa treva que adormece os homens e os faz tristes. Só a sua claridade é amiga e reveladora.”

    Gostei daqui. Textos interessantes, dá vontade de devorar todos.

  6. Debrinha on

    Dé,

    ” amélia que era mulher de verdade”

    Gostei mto =) [como sempre]

  7. Luiz Pedro on

    Capitu e seus olhos de ressaca. Apaixonante, até por representar muito bem tal mescla.

  8. Paula Santa Rosa on

    Adorei!!!!


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